A Causa Da Compulsão Alimentar: Muito Além Das Emoções

Alimentação, Mentalidade | Lívia | modificado em 26/06/2018

Muito se fala da compulsão alimentar e do papel central das nossas emoções sobre ela. ⠀

Embora as emoções tenham ampla influência no nosso descontrole frente à comida, a causa da compulsão alimentar vai muito além delas.

Antes de mergulhar mais fundo no assunto, eu quero dar três recados importantes:

1. De forma nenhuma eu estou te desencorajando a buscar ajudar se você apresenta qualquer tipo de condição clínica, trauma ou alimentação transtornada. Se é o seu caso, procure ajuda.

2. Embora nós muitas vezes usemos o termo “compulsão alimentar” de forma equivocada do ponto de vista clínico e científico, eu vou usar este termo porque ainda é o melhor para expressar o sentimento de descontrole e impotência que temos em relação à comida. Não me importa o quanto nem a frequência em que você exagera na sua alimentação, o que me importa é que você associe este termo com: vontades incontroláveis de comer alguma coisa, comer rápido demais, comer sem fome, comer até se sentir fisicamente desconfortável, etc. Enfim, qualquer comportamento compulsivo envolvendo comida.

3. Eu não desejo aqui diminuir outros profissionais, bem porque eu parto sempre do princípio que existe espaço para todos os pontos de vista, especialmente para um bem comum. A minha intenção é abrir o meu coração como uma pessoa que já sofreu muito sendo obcecada por comida e comendo compulsivamente, que deixou esses comportamentos para trás e que hoje tem a felicidade de ajudar outras mulheres a superar os mesmos problemas.

Dito isso, ​desde que eu me conheço por gente, eu sentia que tinha uma relação estranha com a comida. Desde a primeira vez que me repreenderam por comer pão demais, porque isso era “errado”, tudo o que eu queria na vida era me entupir de pão.

Eu me lembro de comer uma caixa inteira de Paçoquita, colocando-as inteiras na boca, em alguma festa junina na década de 1990. Eu tenho hoje 31 anos. ​Essa relação de amor e ódio com a comida consumiu a maior parte da minha vida, acompanhada é claro do famoso efeito sanfona.

Em 2013, eu me deparei com o livro Brain Over Binge, no qual a autora, Kathryn Hansen​, conta da sua história de superação da bulimia. Foi só ao ler aquele livro que eu descobri que tinha um problema real. Eu apresentava episódios de compulsão recorrentes, bem como comportamentos purgatórios como exercícios excessivos e uso de diuréticos.

Embora eu tenha buscado a ajuda psicológica para o problema, eu confesso que não conseguia me abrir. Eu tinha fases boas e outras muito ruins, com descontroles quase diários e um sentimento de culpa, vergonha e impotência constante.

O meu problema com a comida parecia um obstáculo cada vez mais intransponível, especialmente porque todo o material que eu lia a respeito me levava a acreditar que eu precisava ter a minha vida 100% em ordem para parar de comer tanto. Que eu precisava curar todas as minhas feridas e ter todos os pingos nos “i”s para retomar as rédeas da minha alimentação.

Mas sabe quando isso vai acontecer na sua vida?

Nunca.

Além disso, eu também comia descontroladamente quanto eu me sentia feliz. Então eu comecei a questionar o papel de protagonista das minhas emoções sobre a minha compulsão alimentar.

PORQUE NÓS NOS SENTIMOS IRREMEDIAVELMENTE LEVADAS A COMER

Veja bem, uma emoção pode ser um gatilho?

Sim, definitivamente. Nós podemos ser levadas a comer quando estamos ansiosas, estressadas, frustradas, tristes, bravas, etc. Mas a emoção é só um clique num botão que aciona a verdadeira causa da compulsão alimentar: o IMPULSO.

Funciona assim: imagine que você tem um campo com mato. Cada vez que você faz o mesmo caminho pelo campo, ele fica mais limpo, mais claro e mais fácil de transitar.

O nosso cérebro funciona da mesma forma. A cada vez que executamos um comportamento estimulado por um impulso e nos sentimos recompensadas, nós fortalecemos uma conexão neural, um caminho. Esse mecanismo é bem ilustrado no livro “O poder do hábito”, do Charles Duhigg​.

Existem duas formas de você abrir um caminho batido no mato: uma delas é caminhando sempre no mesmo lugar, de forma que o caminho vai se delineando suavemente, e a outra é com um trator – leia-se uma forma brutal, rápida e eficaz de abrir um caminho.

Uma dieta é um trator.

E por dieta eu me refiro a qualquer tipo de restrição, mesmo que isso pra você seja evitar alguns alimentos a fim de “comer saudável”. Qualquer tipo de controle, qualquer “não” que você imponha na sua alimentação, é uma restrição.

A restrição é como um alargador de caminho. Ela te deixa cada vez mais predisposta a percorrer o mesmo caminho: impulso -> descontrole -> recompensa do bem-estar imediato. E se você viveu muito tempo fazendo dieta após dieta, como eu, o seu caminho pode estar quase asfaltado.

Mas há uma forma de reverter isso, que não necessariamente é resolver todos os problemas da sua vida para que as emoções negativas nunca mais apareçam. Eu vou dividir a minha proposta de solução em dois passos essenciais:

Passo 1. Nutra o seu corpo!

Tire o seu corpo – e a sua mente – da restrição. Permita-se comer o que você gosta, o que você quer. Encha o seu prato de nutrientes e deixe o seu corpo se sentir seguro. Assim, ele vai sair do modo de sobrevivência e você vai ver, pouco a pouco, os seus impulsos perdendo força, já que o seu centro de fome se reajustou.

Passo 2. Faça o trabalho emocional

Aí sim entra a importância de lidarmos melhor com as nossas emoções.

Se a emoção desencadeou um impulso, é preciso de você se separe do seu impulso, que você saiba que aquele impulso não é você, e que ele vai passar. Ele vai vir como uma onda e, se você estiver separada dele, ele não precisa te levar.

Sem dúvida as emoções têm papel importantíssimo na causa da compulsão alimentar, mas de nada adianta lidarmos melhor com elas se não tratarmos o caminho batido. Simplesmente porque você nunca vai ser capaz de evitar problemas que causam emoções negativas.

Mas você pode sim criar outros caminhos, outros comportamentos, para se livrar do seu problema com a comida. Hoje eu te digo, com certeza, que eu nunca mais vou sofrer um episódio de compulsão. Eu tenho problemas, é claro. Eu sofro com eles, muito. Eu sou ansiosa e perfeccionista demais. Mas eu quebrei a ligação, eu fechei o caminho. Caminho que só foi fortalecido como um mecanismo de sobrevivência decorrente de restrição alimentar.

A minha mensagem principal hoje é que, qualquer que seja o tamanho do seu caminho, você tem poder sobre ele. Você pode eliminar o impulso por comer, sem necessariamente viver num mundo cor-de-rosa.

Se você precisa de ajuda com isso, é só entrar em contato comigo aqui. Você é mais forte do que pensa. A sua mente é mais poderosa do que o caminho. Você só precisa das ferramentas certas para criar outros caminhos.

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